O Museu Nacional, instituição de caráter acadêmico e científico, administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, abrigava, em seu acervo, dentre outros, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, batizado de “Luzia”; importantes coleções paleontológicas da América Latina; valiosos artefatos de civilizações ameríndias; a coleção de arqueologia egípcia, além de 750 peças das civilizações grega, romana e etrusca, devendo também ser registrados incontáveis bens das Divisões de Zoologia, Botânica, Geologia e Mineralogia, além de suas bibliotecas.
Seus programas de pós-graduação formaram quadros de excelência em diversos campos do conhecimento. Honramos aqui também a memória de sua longeva diretora Heloísa Alberto Torres (1895-1977), símbolo da dedicação de todos seus professores, técnicos e alunos ao projeto de Brasil lá contido. Além da pesquisa nacional, ganhavam, com a existência do Museu, milhares de estudantes da Educação Básica que puderam conhecê-lo e, nestas visitas, alguns se descobriam vocacionados para a ciência. No que nos concerne mais diretamente, a história das ciências sociais brasileiras não pode ser contada sem a menção ao Museu Nacional, baluarte da luta em defesa da cultura e da diversidade - referência que se tornou também para os povos que estão hoje vivos e contemporâneos – tendo completado neste ano seu Bicentenário.
Há mais de quarenta anos, contudo, o Museu sofria irreparáveis danos com a falta de recursos por parte dos governos e com a indiferença dos parlamentares, salvo raras exceções, para manter sua estrutura e segurança. O agravamento ocorreu com a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 241 (PEC 241), hoje Emenda Constitucional 95/2016, que congela gastos sociais por vinte anos, com efeitos nefastos e devastadores sobre a educação, a cultura e a C&T brasileiras.
O Museu Nacional em chamas é uma imagem que choca a todos e todas. Nós, docentes do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, nos solidarizamos com pesquisadores, servidores e estudantes do Museu Nacional. Rechaçamos com veemência um projeto político que produz miséria material e miséria cultural ao povo brasileiro, e conclamamos a sociedade para que estejamos juntos na defesa do Patrimônio Cultural, da Educação, da Ciência e Tecnologia, das Artes e da Universidade Pública no Brasil.