O REENCANTAMENTO DO CONSUMO CRÍTICO: PRÁTICAS COLETIVAS DE RESISTÊNCIA A PARTIR DO CONSUMO NO BRASIL E EM LISBOA (PORTUGAL)
Nome: LILIANE MOREIRA RAMOS
Data de publicação: 10/02/2025
Banca:
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Papel |
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CARLA FERNANDA PEREIRA RAMOS | Examinador Externo |
MANUELA VIEIRA BLANC | Examinador Interno |
MARIA CRISTINA DADALTO | Presidente |
MARIA DE FÁTIMA FERREIRA PORTILHO | Examinador Externo |
PEDRO PORFÍRIO COUTINHO GUIMARÃES | Examinador Externo |
Resumo: A partir de dois encontros etnográficos com experiências coletivas organizadas em torno
do consumo, deflagradas no contexto da pandemia de covid-19, esta tese se articula em
torno da seguinte questão: porque e como o consumo é tratado como tema central para
pensar coletivamente os problemas da sociedade e agir sobre eles, em um contexto
agravado pela pandemia de covid-19? Especificamente, busco compreender, a partir da
intersecção com o contexto pandêmico, de que forma os sentidos do consumo para os
interlocutores foram moldados ou alterados por diferentes formas de experienciar a
covid-19; analiso a construção do contexto e da crítica empreendida pelos interlocutores
no âmbito do engajamento com as experiências coletivas de que fizeram/fazem parte; e
ainda identifico as práticas coletivas acionadas enquanto expressão da moralidade crítica
desejada por meio do consumo e a partir dele. Para tanto, adoto uma orientação teóricometodológica etnográfica, dentro da perspectiva antropológica, que leva em conta
aspectos estruturais e simbólicos. Os dados foram produzidos por meio da observação
participante multi-situada, com o acompanhamento, em diferentes espaços digitais
localizados e especializados, do envolvimento dos interlocutores com o Laboratório Social
de Consumo do movimento Liberte o Futuro, no Brasil, realizado entre agosto e dezembro
de 2020; e com o acompanhamento da participação dos cooperantes nas atividades da
seção de consumo da cooperativa integral Rizoma, em Lisboa, presencialmente entre
setembro de 2022 e fevereiro de 2023, e de forma remota, por meio dos espaços digitais,
até novembro de 2024. Argumento que, se as estratégias dos interlocutores apontam para
a racionalização do consumo como uma direção ética e moralista, a maior parte de suas
táticas cotidianas revelam um reencantamento das práticas de consumo por meio da
valorização da sensibilidade e do cultivo de emoções positivas, como o prazer, como via
de construção e defesa de um modo de vida, igualmente acionado em sua moralidade
crítica. Neste processo, em vez de buscar um conceito de consumo unificador, os
interlocutores, em suas tensões, engajam-se em processos de experimentação na
construção de projetos e nas relações deles resultantes, em um regime de justaposição
de valores, em vez de superação, sem assumir uma disputa entre as visões objetivista e
subjetivista do consumo, mas com o acionamento das práticas derivadas de cada uma
delas como forma de criativamente viabilizar a vida cotidiana na direção desejada