Tráfico de drogas: o mercado que adota crianças e não dispensa trabalhadores. Uma experiência etnográfica no município de Vitória
Nome: Michelli de Souza Possmozer
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 31/05/2017
Orientador:
Nome | Papel |
---|---|
Márcia Barros Ferreira Rodrigues | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
---|---|
Márcia Barros Ferreira Rodrigues | Orientador |
Maria Cristina Dadalto | Suplente Interno |
Pablo Ornelas Rosa | Examinador Externo |
Thiago Fabres de Carvalho | Examinador Externo |
Resumo: RESUMO
Situa historicamente que a criança contemporânea marginalizada é fruto de um cenário demarcado por permanências históricas (NEDER, 2005) no que diz respeito à história social da infância no Brasil. Contextualiza que as crianças e adolescentes atraídos precocemente para prestar serviços ao tráfico de drogas em comunidades de Vitória são reflexo do sistema capitalista, em que predomina a lógica do homo oeconomicus (Michel Foucault). Desmistifica, portanto, o discurso legalista e moralista que classifica atualmente o jovem traficante como protagonista da violência urbana e traz à tona a visão neoliberal de mercado que movimenta o comércio de drogas nas periferias urbanas. Nesse contexto, compreende como ocorre a vivência de crianças no tráfico, classificadas segundo nomenclatura do Estatuto da Criança e do Adolescente (Ecriad) com até 12 anos incompletos. Utiliza os seguintes procedimentos metodológicos, em três etapas: 1) pesquisa documental, resultante da coleta de 38 prontuários de atendimentos nos Creas e Conselhos Tutelares, referentes a crianças e adolescentes com vivência no tráfico de drogas desde o período da infância; 2) entrevistas em profundidade com familiares, atores institucionais, adolescentes em conflito com a lei, traficantes, ex-traficantes e moradores; e 3) etnografia em uma comunidade de Vitória, por um período de três meses. Ao final da pesquisa empírica, foram estabelecidos diálogos com 58 interlocutores. Os resultados indicam que as crianças expostas a uma vivência no tráfico de drogas no cotidiano de suas comunidades passaram, anteriormente, por uma série de violações de direitos que contradizem o que preconiza o Ecriad. A vivência no tráfico não possui o mesmo significado que o envolvimento, pois a criança, em tese, não é arregimentada como integrante do movimento e passa a receber um valor fixo por seu trabalho, mas é a chamada formiguinha, que presta favores, como comprar comida e itens solicitados por traficantes em troca de uma pequena quantia em dinheiro ou lanches. As conclusões deste estudo apontam que as formiguinhas são quase imperceptíveis na dinâmica do tráfico de drogas nas comunidades e, por isso, dá-se pouca importância a elas, voltando-se o olhar para os adolescentes, que geralmente estão mais visíveis e constituem atualmente um maior número na linha de frente do comércio de drogas. Entretanto, enquanto essas crianças vivenciam e reproduzem um repertório do crime nas suas brincadeiras cotidianas e passam parte da infância prestando favores ao tráfico local, são adotadas por traficantes e internalizam a lógica neoliberal do mundo do crime, reconhecendo no comércio de drogas a alternativa de trabalho promissor que lhes foi apresentada.
Palavras- chave: Tráfico de drogas. Crianças. Negócio.