Relações entre Humanos e Não-Humanos (2018-2019): antas e baleias jubartes

Resumo: O projeto visa pensar como incluir (ou não) as mais variadas formas de agência possíveis, para além das humanas, em seus entrecruzamentos, no âmbito da análise e da escrita, dentro das Ciências Sociais, em especial a Antropologia, pensando também a interface com outras áreas de conhecimento. Os não-humanos (DESCOLA, 2012, 2014), ou como hoje em dia alguns atores preferem chamar, mais-do-que-humanos para não dar uma ideia dicotômica entre os entes (STENGERS, 2015; HARAWAY, 2016), são entendidos aqui como uma ampla denominação, de modo a englobar outras corporalidades, seres sobrenaturais, maquínicos e espécies de animais não-humanos e de vegetais, bem como forças e fluxos, como as ondas (HELMREICH, 2017), dentre outros entes, que, na verdade, são constituídos em relação, embora com variações existentes entre o que Descola (2012) chamou de modos de identificação e Bruno Latour (2000) chamou de coletivos de natureza-cultura – embora com especificidades e diferenças entre esses dois autores.

De modo geral, inspiramo-nos em autores que tentam evitar a terminologia e a concepção dicotômica norteadora do que alguns autores mais clássicos, dentro da Antropologia e da Sociologia, chamaram de culturas ou sociedades, pois os autores trazidos permitem repensar justamente as fronteiras entre o que geralmente se considera como cultura, de um lado, e o que geralmente se considera como cultura, do outro, polos que geralmente correlacionam-se ou operam com outras dicotomias, pelo menos dentro do pensamento ocidental, tais como humano x animal, razão x emoção, feminino x masculino, humanidades x ciências naturais (ver também INGOLD, 1995; HARAWAY, 2000; LATOUR, 2000). Ou ainda são autores que mesmo pensando dentro de dicotomias, por as considerarem relevantes para o pensamento humano, tentam refletir como especificamente a dicotomia natureza x cultura ganha diferentes significados e constituições em diferentes modos de identificação ou modos relacionais (DESCOLA, 2012; 2014) ou modos de pensamento e de conhecimento (STRATHERN, 2011; WAGNER, 2010), ocidentais ou não. Há ainda autores que ajudam a pensar o papel da ciência naquilo que vale ou não como problema ambiental (e social) válido (HANNIGAN, 1995), aqui dentro de um modo de ser-e-conhecer em que a ciência tem papel preponderante.

Assim, dar-se-á continuidade a projetos anteriores, enfocando espécies emblemáticas para o ambientalismo, em um momento, os elefantes marinhos e as onças pardas (projeto interrompido quando a docente assumiu a docência da UFES em 2010) , e, em momento posterior, as tartarugas e seus agentes humanos da tecnociência no Espírito Santo, o Projeto Tartarugas Marinhas (Tamar) . A ideia da proposta atual é acolher subprojetos devotados a outros casos envolvendo espécies emblemáticas, ou que se tenta tornar emblemáticas, para o ambientalismo, e, mais especificamente, para a conservação: (1) no caso baleias jubartes (subprojeto de Sophia Scardua), espécie já abordada em outra orientação de mestrado (TORRES, 2016), procurando identificar seus agentes humanos no Espírito Santo, combinando pesquisa de campo com análise bibliográfica sobre a produção sobre a espécie no Brasil, sobretudo no que diz respeito à saúde do animal e do ecossistema marinho; (2) as antas (subprojeto de Marina Prates), encontradas na Reserva Biológica de Sooretama (REBio de Sooretama), área de atuação do Pró-Tapir: Monitoramento e Proteção das Antas da Mata Atlântica Capixaba, usando o mesmo tipo de abordagem que combina pesquisa de campo com pesquisa bibliográfica.

Ao acolhermos os dois subprojetos, buscaremos também ver como a conservação das duas espécies envolve (ou não) a discussão sobre problemas ambientais mais amplos, outro tema de atuação da docente-pesquisadora, a partir do pressuposto de que habitamos um planeta danificado, que vivencia a sexta grande extinção de espécies, associada ao momento chamado como Antropoceno ou Capitaloceno, em que o seu principal causador seria a atuação humana, considerando, no entanto, que nem todos os grupos humanos e suas ações simultaneamente simbólicas e materiais tenham o mesmo tipo de colaboração e peso nesse sentido, pois o desenvolvimento industrial e os seus agentes aceleraram esse processo (vide KOLBERTH, 2015; HARAWAY, 2016; TSING et al., 2017).

Data de início: 2018-08-01
Prazo (meses): 12

Participantes:

Papelordem decrescente Nome
Coordenador Eliana Santos Junqueira Creado
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