Agentes de inovação e agentes de desenvolvimento: a integração de novos quadros profissionais aos processos e arranjos produtivos

Resumo: Este projeto foi encaminhado como pedido de renovação da bolsa de produtividade CNPq, com término previsto para fevereiro de 2009. A renovação foi aprovada com vigência no período de fevereiro de 2010 a fevereiro de 2013.
Trata-se de uma proposta de trabalho que se insere na trajetória de investigação, iniciada em 2003, com o projeto intitulado “Saberes e Valores: a construção social do trabalhador-empreendedor” que, por sua vez, foi seguido pela pesquisa “Qualificando para o emprego, o auto-emprego e os pequenos negócios: fundamentos ideológicos e horizontes utópicos“, ora em fase de encerramento, mas ainda abrindo novas trilhas e inspirando novas questões.
No decorrer da reflexão teórica e da pesquisa empírica demandadas pela investigação anterior, mencionada na Introdução, alguns binômios – qualificação e competências, capital humano e capital social, empreendedorismo e cooperação, profissionalidade e empresalidade – se afirmaram como eixos analíticos que permitiram organizar e decifrar os conteúdos discursivos extraídos dos documentos e relatos. Nesta démarche, outro binômio – inovação e desenvolvimento – prefigurou algumas problematizações que inspiraram a armação do objeto da presente proposta de pesquisa. A agenda política atual elege os desafios da inovação e a promoção do desenvolvimento socioeconômico regional como importantes eixos programáticos das ações de governo, incluindo a construção de parcerias com outros atores sociais.
Trata-se de fenômenos integrados, pois as alavancas do desenvolvimento econômico e social dependem cada vez mais da base de conhecimentos e da cultura científica e tecnológica disponíveis na sociedade. A ordenação econômica e política contemporânea, bem como a sua ancoragem ideológico-valorativa, contribuíram para a concepção de um agente cuja atuação opera a junção da mudança com a integração social.
Interessa aos propósitos desta pesquisa, situar esta concepção no contexto de mudanças significativas no universo da produção, na ordem econômica, na relação entre estado e sociedade, nas formas regulatórias e no referencial ideológico-valorativo imperante. Observa-se na reconfiguração discursiva o distanciamento dos conteúdos da “crítica do capitalismo” e de uma concepção de mudança social ancorada no conflito de classe, para se ressaltarem os temas da inclusão social, do empreendedorismo, da cooperação e do desenvolvimento local e sustentável. (Colbari, 2006) Integra este repertório um conjunto de significados sociais e políticos, tais como: redução das desigualdades sociais e regionais (equilíbrio interterritorial e articulação intraterritorial), geração e de emprego e de renda; elevação do IDH, relações de poder mais equilibradas com maior nível de abertura à participação da sociedade.
Uma nova agenda política foi construída sob influência das agências multilaterais, redesenhando a estratégia desenvolvimentista que articula municípios, micro-regiões e estado e inclui a pequena empresa e o empreendedor individual, ambos integrados, no âmbito municipal, com as cooperativas, associações e outras instituições colegiadas e, no âmbito estadual, com a organização das cadeias produtivas.
Por outro lado, também no espaço do pequeno negócio, observa-se a preocupação de ativar o espírito empreendedor, na acepção shumpeteriana, ou seja: estimular o espírito inovador (destruição criadora) que pode se traduzir na elaboração e execução de “novas combinações” produtivas (pela introdução de novos produtos e serviços, criação de novos métodos de produção e formas de organização, ou exploração de novos recursos, novos materiais e novos mercados). (Schumpeter, 1982) E mais: nesses espaços produtivos, a função criadora se inscreve de forma mais acentuada no espaço da cooperação social.
O discurso legitimador da pequena empresa e do perfil empreendedor do governo municipal envolve esta estratégia de desenvolvimento local em que os objetivos da competitividade econômica (a racionalidade do mercado) acionam o padrão de solidariedade cooperativa e a cultura cívica. (Putnam, 1996) As comunidades são estimuladas ao desenvolvimento de atividades condizentes com o seu contexto histórico, econômico e cultural – as chamadas “vocações locais”.
Além do contexto no qual é possível entender a concepção do agente de desenvolvimento e do agente de inovação, é pertinente refletir sobre a natureza destas funções e sobre o perfil destes profissionais. Não é o caso aqui de sumariar sequer parte da literatura versada sobre os impactos das recentes mudanças técnicas e organizacionais no universo do trabalho. Porém, cabe sublinhar que as escassas informações disponíveis sobre os agentes de inovação e de desenvolvimento sinalizam um perfil profissional muito próximo daquele que emerge das abordagens sobre a configuração contemporânea do trabalho: um agente público de intervenção social, um educador social, um assessor especializado, socializador de informações e conhecimentos, enfim um profissional cuja atuação não pode ser avaliada por critérios tradicionais de eficiência/eficácia, pois o foco de sua atuação está no ensino/aprendizagem de inovação e de desenvolvimento.
Não exerce uma função produtiva, mas atua sobre as condições técnicas, sociais, administrativas e políticas da produção, contribuindo para gerar um circuito de acumulação local e para integrar os pequenos empreendedores nos espaços do mercado e das “trocas” políticas. Deve “induzir” inovações e dinâmicas de desenvolvimento sustentável de forma interativa com os agentes produtivos individuais e coletivos, bem como estimular as articulações entre eles e com o poder público.
Além do conhecimento e da experiência, há indicações prévias de que, neste desenho profissional, contam os traços de personalidade, as qualidades de comunicação (saber escutar e interpretar as demandas), a receptividade às diferenças, ou seja, atividades que não podem ser totalmente racionalizadas, padronizadas nos escritórios de uma organização. A mobilidade, a flexibilidade, a capacidade de adaptação, as expertises técnicas e a experiência de vida devem ser acionadas para criação de novos espaços para os agentes produtivos que, a partir da inserção local, podem instrumentalizar o capital social acumulado por meio das relações sociais firmadas, e se inserirem nas redes de um “mundo conexionista”.

Data de início: 2010-02-01
Prazo (meses): 24

Participantes:

Papelordem decrescente Nome
Coordenador Antonia de Lourdes Colbari
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