Observatório da Agricultura Familiar

Coordenação: Prof. Dr. André Michelato Ghizelini

Apresentação e justificativa:

Para além de análises simplistas e simplificadoras, o rural moderno está permeado por uma infinidade de formas, estilos e tipos de modos de vida, seja pelo diferenciação entre pequena, média e grande propriedade, ou seja, pela ocupação da terra, mas também em função das formas de produção, dos processos de agroindustrialização, das formas de gerenciamento e organização empresarial, dos mecanismos de comercialização, mas principalmente, pelas características socioeconômico, pelos projetos de vida, pelo capital cultural, pela organização sócio-espacial das famílias, etc. Para tanto, esta diferenciação não se restringe a necessidade de caracterizar esta complexidade do rural, também, mas fundamentalmente para compreender as necessidades e organizar ações, através das políticas públicas, que permitam estabelecer relações de causa-efeito que proporcionem a reprodução social das variadas formas de agricultura familiar existentes. Desta forma, faz-se necessário desconstruir algumas dos simbolismos que a sociedade urbana estabelece para o rural, donde pressupõe-se que lá, no rural, é locus onde há fartura, liberdade, belas paisagens, diversão e tradicionalismo. No entanto, alguns dados nos apontam para uma realidade que se distancia significativamente deste imaginário, como nos é apresentado pelos dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS, MS, 2006), que avalia a situação de segurança e insegurança alimentar dos domicílios, apontam que no rural a insegurança alimentar moderada e grave chega a 19,8%, sendo que a insegurança alimentar total é de 56,3% da população rural no Brasil. Tais números nos revelam uma situação muito particular e que chama atenção para o um mundo rural que apresenta índices superiores no que se refere à insegurança alimentar em comparação com a realidade urbana. Da mesma forma, os índices de segurança alimentar do rural são significativamente inferiores à realidade urbana. Mais do que apresentar uma realidade de segurança ou insegurança alimentar, os dados, da tabela acima, nos levam a questionar em que medida o atual modelo de desenvolvimento rural tem contribuído para o modo de vida da pequena agricultura. Embora o senso comum afirme que no meio rural há abundância e fartura de alimentos, e que a fome estará presente em proporções significativas na periferia dos grandes centros, os números da PNDS vêm comprovando, proporcionalmente, que é exatamente o contrário. Segundo dados do censo demográfico do IBGE (2000), nos municípios abaixo de 20 mil habitantes, que representam 4.074 municípios, ou seja, 73% do total dos municípios brasileiros, possue 47% da sua população morando nos espaços rurais. Ainda segundo os do IBGE/2000, 90% da população rural brasileira está localizada nos municípios com até 100 mil habitantes, ou seja, a população rural está muito pouco presente nas localidades em que os investimentos têm sido, historicamente, direcionados com maior intensidade e constância pelo poder público, nas regiões metropolitanas e nos grandes e médios centros urbanos. Os dados do censo demográfico, aliados aos números da PNDS, reforçam a tese de que, embora a miséria e a fome estejam presentes nos grandes centros urbanos, proporcionalmente, as populações rurais ainda são aquelas que estão sofrendo com maior intensidade as agruras do modelo de desenvolvimento do país. População rural que não se caracteriza única e exclusivamente como trabalhadores rurais assalariados, mesmo porque estes estão habitando espaços urbanos em sua grande maioria, mas são essencialmente trabalhadores rurais que sobrevivem da produção para a subsistência, como também da remuneração do trabalho formal, informal e aposentadoria.
 
Objetivos gerais:
Realizar atividades de monitoramento, assessoria e acompanhamento da agricultura familiar capixaba, seja das políticas públicas ou de ações realizadas por agricultores e suas organizações no Estado do Espírito Santo.
 
Objetivos específicos:
1. Acompanhar as políticas públicas para a agricultura familiar capixaba, através de sites governamentais e não governamentais, assim como através da mídia escrita (jornais, blogs, sites, etc) de circulação local e nacional. 2. Acompanhar e assessorar atividades que se tornem referenciais, ou incubadoras, desenvolvidas pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em parceria do Laboratório de Estudos Territoriais (LaTerra), através deste projeto de extensão, de forma a assessorá-los no que se refere a processos de gestão e comercialização de alimentos agroecológicos. 3. Realizar intercâmbios entre comunidade (estudantes, professores e população urbana externa) e agricultores e suas comunidades, proporcionando aproximação e interconhecimento sobre o mundo rural e suas problemáticas e avanços. 4. Realizar eventos de extensão em formato de seminário que possa ampliar o debate sobre as problemáticas e avanços do mundo rural e da agricultura familiar capixaba.
 
Metodologia:
O Projeto será desenvolvido seguindo as seguintes orientações metodológicas: 1. Monitoramento das Políticas Públicas da Agricultura Familiar Este projeto pretende acompanhar as políticas públicas para a agricultura familiar (estadual e federal), através da publicação das ações públicas nos sites e documentos oficiais das secretaria e ministérios afins a agricultura familiar, de forma a mensurar e analisar as áreas de maior concentração e atividade no que se refere aos investimentos públicos para a pequena agricultura familiar. O monitoramento ocorrerá semanalmente, sendo que as informações serão sintetizadas no relatório final. 2. Realização da Barraca da Agricultura Familiar e Agroecologia na UFES A barraca é uma atividade de aproximação entre o rural e o urbano, tendo como objetivo intercambiar experiências apresentadas através de vídeos, fotos, materiais informativos, alimentos agroecológicos que serão expostos, como tambématravés de rodas de conversa e contação de histórias de vida e relatos sobre o modo de vida rural e familiar no contexto capixaba. 3. Intercâmbio e visitas técnicas à comunidades e propriedades de agricultores familiares no município de Domingos Martins A atividade de intercâmbio ocorrerá 3 vezes no período de duração do projeto, sendo que o objetivo é aproximar universidade e agricultores familiares, para que tanto acadêmicos e professores possam entrar em contato com o modo de vida da agricultura familiar e da produção agroecológica, como também, agricultores possam aproximar-se da realidade das universidades brasileiras.

 

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