CADECS : chamada para dossiê - Antropologia gráfica: os movimentos de observar, descrever e fazer

O presente dossiê aceitará contribuições que busquem refletir, teórica, metodológica e/ou experimentalmente, sobre as potencialidades da chamada “antropografia” (Ingold, 2015), que poderá ser composta por e nas intersecções entre escrita, fotografia, desenho, filme etnográfico e as mais diversas formas de expressão, na composição do saber antropológico.

Quais as formas que a Antropologia contemporânea busca para ler a vida daqueles que ela se propõe a pesquisar? Ler quer dizer reunir, assim, contar a vida e suas experiências não se restringe apenas em expressá-la por meio da escrita, pois como poderíamos exprimir oralidades, relatar o que foi visto, ouvido e sentido usando apenas palavras? Que recursos são utilizados pelos antropólogos para expressar as suas investigações? Escrever, etimologicamente scribere, quer dizer cortar, fazer uma incisão. Como lemos os mundos narrados que pesquisamos? Pensamos que a própria letra é imagem, mas também refletimos sobre a oralidade e as suas potências narrativas, no uso das imagens fotográficas, na captação de sons, desenhos, mapas, costuras e bordados, como maneiras de narrar a vida e como práticas que se encontram, dialogam, complementam-se. Tanto grafar com palavras ou com outras formas de expressão revelam novas possibilidades de narrar e de fazer narrar.

O intuito dessa chamada é aproximar tais potencialidades para que tenhamos uma paisagem dessas expressões nas práticas antropológicas atuais. Ao considerar que é comum pensar a Antropologia enquanto disciplina a partir das suas várias subdivisões, caixas epistêmicas moldadas quase hermeticamente para que não se contaminem com as demais, mostra-se potente e instigante refletir e desmontar o dualismo clássico entre escrita e imagem ou, em outros termos, tensionar a distinção entre uma antropologia do visual e uma antropologia supostamente da escrita. Para Anne Marie Christin, por exemplo, a escrita “é uma dupla imagem”: a de uma figura que se oferece ao nosso olhar e a de uma tela branca – outra imagem (o suporte) – sem a qual a “figura” não poderia emergir (2012, p. 13). Além dela, Tim Ingold (2015) chama a atenção para o fato das letras do alfabeto romano também possuírem tal ligação visual/espacial com determinado objeto, ao nos contar a história da letra “A” maiúscula, cujo “pequeno gesto e a marca gráfica deixam atrás de si um peso de precedente histórico que se estende por muitos milênios” (2015 [2011], p. 269). Assim, Ingold (2015, p. 261-262) nos presenteia com o instigante conceito de “antropografia” (ou “antropologia gráfica”), algo capaz de acoplar os movimentos de “fazer, observar e descrever” com uma boa medida de “improvisação criativa”. O autor propõe que possamos “escapar da polaridade da imagem e do texto, e mais uma vez restaurar a disciplina da antropologia para a vida”.

PRAZO PARA ENVIO DE ORIGINAIS: 02 DE AGOSTO 2019

Organizadores: Cristina Maria da Silva (Rastros Urbanos/UFC); Alexsânder Nakaóka Elias (LA’GRIMA/Unicamp)

 

 

 

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